sábado, 6 de janeiro de 2018

Dia de Reis

Neste dia, que marca o fim da época natalícia, proponho três contos portugueses:

- Eça de Queirós, "Suave milagre", in Contos;
- Sophia de Mello Breyner Andresen, "Os três reis do Oriente", in Contos Exemplares;
- Luísa Dacosta, "Os magos que não chegaram a Belém", in Natal com Aleluia.


O que nos (me) dizem estes textos?

O primeiro não nos fala do mistério do nascimento, revela-nos, sim, o deslumbramento da palavra e da obra de Jesus, tão procurado, mas só visto por "aqueles ditosos que o seu desejo escolhia"; neste conto, surpreendentemente, um desses escolhidos é uma frágil criança, acompanhada só de sua mãe, da dor e da esperança.

O segundo, segue a tradição dos Reis Magos - Gaspar, Melchior, Baltasar - para nos propor a redenção, a fraternidade e a busca de um deus que a todos proteja, pois todos, a um tempo, somos "humilhados e oprimidos":

"- Dizei-me onde está o altar do deus que protege os humilhados e os oprimidos, para que eu o implore e adore.
Ao cabo de um longo silêncio, os sacerdotes responderam:
- Desse deus nada sabemos.
*
Naquela noite, o rei Baltasar, depois de a Lua ter desaparecido atrás das montanhas, subiu ao cimo dos seus terraços e disse:
- Senhor, eu vi. Vi a carne e o sofrimento, o rosto da humilhação, o olhar da paciência. E como pode aquele que viu estas coisas não te ver? E como poderei suportar o que vi se não te vir?"

O terceiro conto liberta os Magos do peso do ouro, das ricas oferendas, do poder e da fama e mostra-nos três homens bons, "magos, sacerdotes que estudavam o céu e os seus astros". Três homens, entre muitos, que não chegaram a Belém e que não figuram no presépio: "Há sempre os que conseguem e os outros. Os que ficam pelo caminho." Estes magos regressaram à sua terra, a fim de protegerem um menino abandonado que encontraram numa escura gruta, escolhendo o difícil caminho da desistência de objectivos traçados, ainda que pelos melhores motivos, os que se enraízam no amor. Todavia, não o fizeram sem protestação:

"- Regressar?! E a Luz que vínhamos a seguir? - protestou o mais novo, para quem era doloroso, depois de tantos trabalhos e canseiras, não levar a cabo o que se tinha proposto. - Desistimos assim da Luz que nos guiou até aqui? Desistimos, agora, quando estávamos tão perto?
- Compreendo o que sentes, irmão, também já fui novo... Mas há a criança. Como poderemos abandoná-la?"

Boas leituras a fechar o Natal...
Ana Eustáquio

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